quarta-feira, 20 de setembro de 2017

A Filha do Capitão, de José Rodrigues dos Santos

A Filha do Capitão, do tão conhecido jornalista José Rodrigues dos Santos, foi a minha estreia na panóplia de livros do autor. Sempre tive imensa curiosidade nos livros da sua autoria, pela grande admiração que nutro por José Rodrigues dos Santos pelo seu profissionalismo e cultura e, por isso, decidi que estava na altura de adquirir uma das suas obras que tantas críticas positivas têm recebido. 

Embora despertasse um maior interesse pela tão conhecida personagem Tomás Noronha, optei por iniciar a leitura por A Filha do Capitão, sabendo que essa personagem não constaria nesta obra. Sabia que este livro retratava a participação das tropas portuguesas na Primeira Guerra Mundial, e dado o meu fascínio por História, tinha a certeza de que iria aprender imenso ao longo das páginas deste romance. 

Com uma escrita bastante pormenorizada, mas de fácil leitura, A Filha do Capitão rapidamente se transformou num dos meus livros preferidos até então. Se eu achava que só iria aprender mais acerca da primeira grande guerra, depressa percebi que o livro vai muito além disso: fala-nos, simultaneamente, do estilo de vida e da moral dos portugueses no início do século XX; do aparecimento do futebol e da eletricidade em Portugal e na França; da queda da monarquia e da instauração da república portuguesa, bem como de todos os acontecimentos respeitantes a esta temática; da admiração e especulação da Torre Eiffel; do desenvolvimento da medicina e abertura a novas práticas, confrontando com os ensinamentos religiosos; de um novo estilo artístico - o cubismo - que surge igualmente no início do século e que desperta curiosidade por ser tão diferente; e ainda de grandes questões e fundamentos filosóficos e religiosos, com diálogos fabulosos acerca da existência divina, do livre-arbítrio e do destino. Mas a parte mais fascinante de todas foi o retrato que José Rodrigues dos Santos elaborou acerca da vida dos soldados portugueses nas trincheiras em Flandres, França, e tudo aquilo que passaram, de forma nua e crua, descrevendo sem pudor tudo aquilo a que estavam sujeitos. Este é, efetivamente, um livro bastante interessante e que me fascinou a cada página de leitura. 

O romance que a obra retrata, por sua vez, embora tenha considerado um pouco previsível, é encantador. Porque, de facto, as personagens principais são bastante interessantes e surge num contexto instável, levando o leitor a querer conhecer cada vez mais esta história de amor. 

Este livro apresenta também falas totalmente em francês e alemão, pelo que é necessário, por vezes, parar a leitura e recorrer a um tradutor para melhor compreendermos os diálogos e a história (isto, claro está, para quem não está familiarizado com as línguas), e também parei algumas vezes para situar num mapa todos os lugares que iam sendo mencionados (os que não conhecia). 

Terminei a leitura de A Filha do Capitão com vontade de conhecer as restantes obras do autor, das quais espero que apresentem uma maior qualidade, já que este livro aumentou a fasquia. Deixo-vos, então, com uma das minhas passagens preferidas da obra: 

"A vida foge-nos, escapasse-nos como água entre os dedos. Morremos a cada respiração, a cada palavra, a cada olhar, momento a momento encurta-se a distância que nos separa do nosso fim, nascemos e já estamos condenados à morte. A vida é breve, não passa de um instante fugaz de um brilho efémero nas trevas da eternidade."

E vocês? Já leram este livro? Conhecem as restantes obras do autor?

Fotografia da minha autoria.

1 comentário:

  1. Confesso que nunca tive muito interesse nas obras deste autor, porém achei a tua review incrivelmente detalhada e muito bem escrita! Deixaste-me com vontade de explorar melhor a sociedade portuguesa do inicio do século XX. (:

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